Por que #EleNão é fascista

 

 

Mutiplica-se nas redes s20181014_215020ociais a expressão fascista aplicada a Jair Bolsonaro. Até de nazista Bolsonaro vem sendo xingado, o que, francamente, é disparate. E aviso, para desapontamento de muitos, que não sou nem mínion nem lulo.

Ressalva feita, passo à pergunta que não cala: Jair Bolsonaro é fascista? O caminho que escolhi para tentar responder à pergunta é trazer algo que dê sustentação conceitual e histórica sobre o fenômeno social chamado fascismo e saber se Jair Bolsonaro se enquadra nele. “Às armas, cidadãos!”

Antes, em homenagem à verdade e à honestidade intelectual, há um parêntese que deve ser aberto. Embora o mote da campanha de Jair Bolsonaro “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” tenha inspiração fascista, #EleNão é fascista.

Jair traz esse lema do Exército. Para a Infantaria em operação de guerra, “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” é como mão e luva, agulha e linha, pingo no “i”. Entretanto, retirar o bordão do contexto estritamente militar e aplicá-lo à Cidade (sociedade civil) é inadequado, pois o cidadão, o indivíduo pode ter sua esfera privada invadida ilegalmente pelo Corpo Orgânico Social (Estado, Nação, etc) e, se esse corpo está acima de tudo e é Deus que o sustenta, a pessoa de carne e osso grita por socorro e só encontra ouvidos moucos.

Não sei se Jair Bolsonaro tem essa nuance em perspectiva; desconfio sinceramente que não. Penso que seja mais o mantra que ele repete sem saber de seu alcance e dos desdobramentos que possam surgir. #EleNão é fascista por isso, uma vez que, para ser fascista é preciso atender a alguns requisitos em bloco e não apenas possuir um deles.

Fechando o parêntese e partindo para o Dicionário Aurélio” encontrei:

“fascismo [do it. fascista] Adj. 2g. sistema político nacionalista, imperialista, antiliberal e antidemocrático, liderado por Benito Mussolini (1883-1945) na Itália e que tinha por emblema o feixe (em it. fascio) de varas dos antigos lictores romanos.”

Defender nacionalismo não torna ninguém fascista. Nesse sentido veja o que a professora de Ciência Política Evelyne Pisier escreve no livro “História das ideias políticas”:

“Em suma, se o nacionalismo francês afastou a França do fascismo, nem por isso deixou de forjar as origens francesas do fascismo.” (p.329)

Ou seja, nacionalismo sozinho não faz de ninguém fascista, porém fascismo sem nacionalismo não existiu na história. Jair Bolsonaro não é imperialista, não é antiliberal (Paulo Guedes e o programa econômico de Bolsonaro que o digam) e muito menos antidemocrático, pois ele está há quase 30 anos jogando o jogo eleitoral. Até onde se sabe, não consta que Jair Bolsonaro defenda certo tipo de gramscismo de direita, em que a democracia seria o remédio amargo inevitável para se alcançar algum tipo de governo autoritário.

Prosseguindo ainda com a professora Evelyne Pisier, gostaria de aprofundar o conceito do dicionário:

“O fascismo é, antes de tudo, um estatismo: ‘se liberalismo significa indivíduo, fascismo significa Estado’, grita Mussolini. ‘Tudo está no Estado, nada contra o Estado, nada fora do Estado’, tal é a divisa do movimento.”(p. 341)

De fato, Jair Bolsonaro foi estatista; hoje não é mais. Paulo Guedes, o guru econômico dele, é ultraliberal com cabeça modulada na Universidade de Chicago. Curioso que, neste aspecto, a esquerda brasileira é que tangencia o fascismo.

Avançando ainda mais na investigação, vamos ao prato principal – o estudo monográfico “Fascistas”, de Michael Mann. De início, o autor destaca claramente o lado esquerdo do movimento fascista:

“Inicialmente, eles eram em sua maioria esquerdistas não materialistas que aderiram ao nacionalismo orgânico.” (p.17)

“Coletivistas, eles desprezavam o individualismo amoral ‘do liberalismo de livre mercado’ e a ‘democracia burguesa’, que negligenciavam os interesses das ‘comunidades vivas’ e da ‘nação como todo orgânico.’” (p.18)

“O francês Valois escreveu que ‘nacionalismo+socialismo= fascismo’, e o inglês Oswald Mosley afirmou: ‘quem ama nosso país, é nacional, e quem ama nosso povo é socialista.’” (p.19)

“Os fascistas adoravam o poder do Estado. O Estado corporativo autoritário supostamente seria capaz de resolver crises e gerar o desenvolvimento social, econômico e moral, como enfatiza Gregor (1979)” (p. 27)

Difícil não se lembrar, de novo, da esquerda brasileira quando se lê o trecho acima.

Entretanto, o fascismo não foi um movimento apenas com ideias de esquerda e, por isso mesmo, não foi uma força política simples e unipolar como muitos acham. Ele se formatou com várias faces e cabeças, tal qual o cão mitológico, Cérbero. Prossigo com Michael Mann:

“Os fascistas rejeitavam as ideias conservadoras de que a ordem social vigente é essencialmente harmoniosa. Rejeitavam as ideias liberais e socialdemocratas de que os conflitos entre grupos de interesse são uma característica normal da sociedade. E rejeitavam também as ideias esquerdistas de que a harmonia só poderia ser alcançada pela derrubada do Capitalismo. Os fascistas tiveram origem ao mesmo tempo na direita, no centro e na esquerda, contando com sustentação em todas as classes (Weber, 1976:503).“ (p. 28)

Surpreendente?

De tudo o que foi mostrado, penso que se pode sustentar que #EleNão é fascista, apesar do “Brasil acima de tudo; Deus acima de todos”. De grande importância é o fato de o fascismo histórico ter sido um tipo de Kraken com seus tentáculos em círculo abarcando praticamente todo o espectro político. Uma vez que o fascismo tenha absorvido conceitos e ideias tanto de movimentos mais à esquerda como de grupos mais à direita, fica patente que a experiência histórica fascista tangencia, por óbvio,  tanto esquerda como direita. E que, na verdade, a esquerda não pode atirar pedra no telhado de Jair Bolsonaro, exatamente por ela ter também, nesse quesito, telhado de vidro.

Por fim, despeço-me com Michael Mann:

“Na linguagem contemporânea, a palavra é usada sobretudo no xingamento ‘fascista’, invectiva vaga contra aqueles de quem não gostamos.”( p.483)

#EleNão é fascista!

 

Referências

FERREIRA, Aurélio B. de H. Novo dicionário da língua portuguesa. 2ª ed. rev. e aument. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986.

MANN, Michael. Fascistas. trad. Clóvis Marques. Rio de Janeiro: Record, 2008.

PISIER, Evelyne. História das ideias políticas. trad. Maria Alice Farah Calil Antonio. Barueri-SP: Manole, 2004.

 

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O livro de Provérbios (V)

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No capítulo cinco, o sábio passa a convidar o filho a aprestar os ouvidos. Ele retoma a comparação com a atividade militar ao se valer da expressão aprestamento. Já expliquei isso melhor em “O livro de Provérbios (II)”. Atente mais adiante para o fato de o escritor do livro chamar para ele a responsabilidade pelo que escreve e pelo conteúdo da orientação que transmite ao filho. Ele menciona “compreensão”, palavra relacionada à atividade racional. Tanto no capítulo cinco como no capítulo dois, o autor retoma a “pauta” do relacionamento amoroso e da fidelidade na união conjugal, da mulher da juventude e de outros pontos. No contexto em que o livro foi escrito, a palavra de cautela para os relacionamentos é dirigida ao homem. Mas hoje torna-se óbvio que a mulher pode tomar tranquilamente os conselhos para si mesma.

Sei de um caso de homem cuja mulher o traía e ele ainda era acossado indevidamente pelo amante da mulher, que se passava por policial sem sê-lo. Terrível! No outro extremo, conheço alguns homens cujas posses se esvaíram como areia de ampulheta – sem direito a virar o lado – em função de terem arrumado amantes, deixando inclusive os filhos em penúria material e emocional.

“Os lábios de uma mulher promíscua destilam mel e (a palavra de) sua boca parece mais macia do que o óleo, mas seus propósitos são amargos como absinto e ferem tanto quanto uma espada de dois gumes.” (5,3.4)

“Afastai-vos dela e não vos aproximeis da porta de sua casa, para que não tenhais que ceder  a outros  a glória (que poderíeis alcançar) e a extensão de vossas vidas a uma pessoa cruel. Estranhos absorveriam tua força, e o fruto de teu trabalho seria desviado para suas casas.” (5, 8-10)

Depois que o tempo passa e a bobagem  – ou coisa pior – é feita, resta só lamentar. Tem ação que não se conserta, só se indeniza. É melhor ouvir conselho (para o sábio, conselho é bom e pode ser dado de graça sim) e aprender com o erro dos outros do que amargar consequências que às vezes não tem volta.

“Lamentamos, então, ao perceberes que se aproxima teu fim e sentires consumir-se a carne de teu corpo. Dirias então: ‘Como pude abominar a disciplina e desprezar em meu coração as advertências recebidas?’” (5, 11.12)

No final, o sábio se vale de imagem aquífera para encorajar cada homem a permanecer fiel à própria mulher, bem como a não largar a mulher da juventude. Conheço muitos casais que já contam mais de 20 nos de matrimônio. Eu mesmo já estou chegando perto dessa marca. Gosto muito de estar casado e conviver de perto com alguém há quase vinte anos. Tem sido bom, apesar dos contratempos.

“Bebe água somente da tua própria cisterna, a água corrente de tua própria fonte” (5,15)

“Será abençoada tua fonte e te regozijarás com a esposa de tua juventude.” (5.18)

 

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A fé que move a economia: Weber 1 X 0 Marx

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É conhecido no pensamento de Marx o pilar que o sustenta: economia move tudo, inclusive a religião. Para Marx, a economia é determinante; o resto é determinado. No pensador do chamado materialismo dialético, as mãos (literais) e o trabalho são chave para a compreensão de quase tudo no campo sociológico.

Por outro lado, o também alemão Max Weber fez estudos muito profundos da sociedade e é considerado, assim como Marx e Durkheim, um dos pais da sociologia. Não nego, contudo, que Marx tenha sido vulcânico em vários aspectos também.

No caso particular da relação economia e fé, Weber fez um estudo que relaciona a fé protestante calvinista e o capitalismo ocidental, em especial, o americano.

Dessa forma, Weber recolheu dados e argumentou em favor da ideia de que a religião também impulsiona a economia – a tese central de Weber no famoso “A ética protestante e o espírito do capitalismo” é que a teologia social de Calvino, em alguma medida, contribuiu decisivamente para o sucesso da economia de troca ocidental.

Curiosamente, uma reportagem de três páginas do Jornal “O Globo” de domingo 19/6/16 reforça bastante a conclusão weberiana.

Acusando fatos e indicando volume de dinheiro circulante (“Devoção que estimula a economia”), a extensa reportagem mostrou casos concretos no Brasil de como a fé pode mover não só montanhas mas a economia também: centrada nos casos de Aparecida-SP, Juazeiro do Norte-CE, Abadiânia-GO, Palmelo-GO e Trindade-GO, ficou límpido como a economia é afetada pela fé e que a relação rígida imaginada por Marx – a economia determina a religião – não se sustenta no mundo real. Interessante é que, de forma a enriquecer o estudo de Weber, nenhum dos casos listados possui ligação com o protestantismo. Dos cinco casos trazidos pela longa reportagem, dois se referem a catolicismo e três a espiritismo. Vamos aos números.

Em Palmelo, segundo a matéria, o PIB cresceu 247,3% entre 2000 e 2013 – lá, mais de 60% dos 2400 moradores são espíritas. Já em Alexânia/Abadiânia, o médium João Teixeira de Farias, o João de Deus, provocou uma “revolução” no pequeno município de 16.000 habitantes. João de Deus tornou Alexânia cosmopolita. Curiosamente, João de Deus realizou um sincretismo religioso: a casa onde ele atende os turistas chama-se Dom Inácio de Loyola, em alusão ao ex-militar que fundou a famosa e controvertida Companhia de Jesus. Na casa é muito comum ouvir inglês e alemão. Além dos gringos, João de Deus atrai famosos de vários matizes: de Xuxa ao ministro do Supremo Luís Roberto Barroso.

Aparecida do Norte movimenta em seu comércio cerca de R$ 600 milhões. Não é novidade a vocação turística religiosa da cidade-santuário. Segunda maior basílica da Igreja de Roma, atrás apenas da Basílica de São Pedro, a de Aparecida atrai fiéis que podem gastar cerca de mil reais na viagem e dependendo do bolso e do gosto, cerca de 120 reais com almoço e estacionamento. A fé pode mover a economia também.

“Com a economia baseada no turismo, essas cidades têm boa parte do PIB sustentada pelo setor de serviços. Em Aparecida, esse segmento movimenta quase 68% da economia. Em Juazeiro, 59%; em Abadialândia, 42%; e em Trindade, 37%.”.

O trecho acima resume bem a reportagem e ilustra bem como, no caso examinado, a teoria sociológica de Weber suplanta a de Marx, o que me autoriza a mostrar o placar desta “partida”: Weber 1 X 0 Marx.

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O livro de Provérbios (IV)

 

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Esse capítulo quatro é para os jovens. Se você tem filhos, pode muito bem sorver dessa fonte de correção e ajuste e depois indicar pra ele. Na visão do sábio, o jovem tem um caminho seguro a trilhar para aprender a sabedoria e compreensão das coisas divinas: a Lei de Deus. Compreendida ordinariamente por Lei, a palavra Torá (do hebraico) é melhor traduzida por Instrução. Porém, aqui, por questão de consagração do termo, vou usar Lei.

A Lei de Deus é perene, nunca foi revogada ou será até que passem céus e terra. Muitos grupos cristãos a tem em alta conta e entendem que ela conduz o que crê à santificação. Nem toda prescrição da Lei é para todos. O não judeu não está obrigado a muitas delas mas os princípios éticos da Torá podem ser observado por qualquer um. Provérbios é ética, já o disse antes em “O livro de Provérbios (Mishlê)”.

“Estai atentos, ó jovens, à disciplina de vosso Pai, e escutai com atenção, para adquirirdes compreensão, pois fundamentais são os ensinamentos que vos proporcionei; não abandoneis a minha Torá” (4,1.2)

Seja qual for a orientação religiosa do jovem, dá pra observar no dia-a-dia que as famílias que estreitam os laços com suas crianças geram adolescentes mais tranquilos e obedientes aos pais, e jovens mais equilibrados ante os desafios da vida. Com isso, essa juventude tem mais chance de não padecer tanto face aos “senhores” químicos da existência –  descontrolados na juventude –  como dopamina e ocitocina.

“Fui um filho dedicado a meu pai, carinhoso e único para com minha mãe.” (4,3)

O sábio insiste que a Lei deve ser buscada pelo jovem, pois ele (o jovem) só tem a ganhar.

“Não esqueças (a Torá) e ela te preservará; ama-a e ela te guardará. O princípio da sabedoria é buscar sua aquisição e, ao fazê-lo, conseguir também entendimento. Busca-a  e ela te exaltará; abraça-te a ela e honra te será concedida” (4,6-9)

Vestimenta de vitória para uso nesta terra é tecido pelo sábio. O alerta sobre os efeitos da sabedoria sobre o homem que a adquire é patente. Na perspectiva dele, é como se o que busca a sabedoria mais do que o ouro deste mundo, terá necessariamente bênção no presente.

“Atenta, pois, meu filho, e acata minhas palavras, e assim serão aumentados os anos de tua vida.” (4, 10)

Numa linguagem próxima daquela na qual o salmista se expressa, o sábio usa a ideia dos passos e dos pés como sinais inequívocos da presença da sabedoria na vida do que a observa. Os passos do que tem sabedoria são retos e não se desviam. Até uma criança pequena pode entender essa alusão.

“Quando caminhares, nada restringirá teus passos; e se correres não tropeçarás.” (4,12)

Como sempre haverá (propositadamente) discursos duvidosos e com duplo sentido, Provérbios tem o antídoto perfeito para isso. A instrução do sábio advoga a clareza de mente e de expressão e exorta o que busca a sabedoria a ter lábios sinceros. Mesmo sendo consciente do laço com que a mentira pode nos enredar e como é impossível, em algum momento da vida, dela não fazer uso ou dela não se valer ainda que esquivamente, o sábio se volta contra o engano e as sutilezas maléficas do discurso. Isso vale pra toda gente mas para o jovem é especialmente importante, pois evita que ele se envolva em fofocas e enrascadas.

“Remove de ti palavras dúbias e distancia de ti lábios enganadores.” (4, 24)

 

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Jornal Nacional: “Brexit é extrema direita”

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O JN de 28/6 veiculou longa reportagem sobre o resultado do plebiscito cujo veredito foi retirar o Reino Unido da União Europeia. Na matéria, a vitória do Brexit (abreviação de Britain + Exit, ou seja, saída britânica) é coisa da extrema direita.

Impregnado da linguagem corretamente política e de apoio tácito a globalistas e unificadores de nações, o JN se esforçou para mostrar que, caso o Parlamento Inglês assine embaixo da vontade popular, as trevas retornarão à Europa. Para o JN e para muitos da mídia, como a ISTO É, os que votaram pela “saída” são ignorantes, atrasados, preconceituosos, racistas, homofóbicos, xenófobos, etc. “É extrema direita, gente. Vai esperar o quê?” Nada mais distante dos fatos.

Nesse caso, a vontade popular, o desejo de pessoas de carne e osso, muitos dos quais pobres, foi decisiva. E isso é importante. À semelhança da ONU, com seu governo administrativo que não passa por estâncias participativas, a União Europeia, apesar de ter parlamento, não é vista, sobretudo pelos ingleses mais pobres, como canal democrático efetivo. O povo disse não.

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Na verdade, a federação composta por quatro países, Inglaterra, Escócia, País de Gales e Irlanda do Norte, disse não à União Europeia por pelo menos duas excepcionais razões.

A primeira. O intervencionismo do governo europeu, a partir de Bruxelas, considerado muitas vezes antidemocrático.

A segunda. A quantidade de migrantes – europeus, melhor dizendo – que foram morar no Reino Unido, competindo por emprego, saúde e escolas. A vida cotidiana foi atingida por um tsunami demográfico e social. O povo disse não. Em poucas e boas palavras: a liberdade e o bolso dos britânicos foram atingidos. Quem suporta esse tipo de compressão por muito tempo?

Além de tudo, há um fato central lembrado por especialistas em Inglaterra – a maioria dos que disseram “não” foi de lá. Não existe festa de independência para os filhos da rainha. É como se dissessem ao Parlamento europeu: “sempre fomos livres!”. Somado a isso, o Reino Unido pode manter relações com a União Europeia e continuar no Mercado Comum, sem, contudo, participar da estrutura política de Bruxelas.

Em outro front, muitos analistas têm feito previsões apocalípticas de que a modernidade perdeu, a livre circulação de mercadorias e pessoas levou um duro golpe e outras profetadas do tipo. O que vejo como consequência é que (em efeito talvez não visualizado por conservadores e pela “extrema direita” do JN), parte da chamada civilização ocidental pode enfraquecer perante chineses e islâmicos. Porém, qual remédio, por mais eficaz que seja no combate à doença, não traz consigo pelo menos irritação estomacal?

Brexit foi Vox Populi, é verdade, mas pode trazer consigo algum mal embutido. Entretanto, nesse mundo de meu Deus, o que não traz risco? Melhor afastar o mal atual do que esperar pelo bem num futuro incerto. Se, segundo o JN (28/6) – em tentativa implícita de manobrar a opinião pública brasileira – isso é ser extrema direita, por que não?

Pra frente, Brexit!

 

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Terror na Turquia: “- mais uma, garçom!”

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O Estado Islâmico não para. É nesse grupo terrorista que o governo turco aposta todas as fichas de autoria dos atentados que mataram até agora 32 pessoas e deixaram feridas cerca de 88 num aeroporto da capital Istambul. Isso foi hoje, 28/6/2016. Homens bombas se explodiram ali.

Ostentando na bandeira vermelha nacional o crescente e a estrela, a Turquia, de algum modo um estado islâmico, é aterrorizada pelo Estado Islâmico. Mesmo sendo estado laico, o ataque não deixa de ser emblemático, pois mais de 90% da população se declara muçulmana.

Europeizada e ocidentalizada, a Turquia ombreia com França e Bélgica na tristeza e na impotência de não poder ter evitado o terror religioso muçulmano. Europeizada e ocidentalizada, Istambul passa a contar seus mortos vítimas da brutalidade do ISIS, junto com Bruxelas e Paris.

Entre os separatistas curdos e o Estado Islâmico, a inteligência do governo indica estes últimos como prováveis mentores e executores da matança. Nada será como antes em Istambul, assim como Nova Iorque não é a mesma depois daquele setembro macabro.

Retaliada por fazer parte da coalizão que fustiga o Estado Islâmico na Síria e no Iraque, como a Turquia responderá a esse ataque?

Mais violência? Fraqueza? Covardia?

O famoso grupo terrorista parece não dar sinais de que seu desejo de beber sangue ocidental terá fim. O carrasco dos laranjas parece ser aquele habitué de taverna que nunca toma a saideira; sempre quer a próxima e só encerra a rodada quando tomba. Até quando o Estado Islâmico, inclemente e impune, gritará em tom de galhofa: “- mais uma, garçom!?”

 

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Bolsonaro acerta: cultura de estupro ou cultura de impunidade?

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Eis a pergunta central que o deputado Jair Bolsonaro, recentemente transformado em réu de ação penal pelo Ministro Luiz Fux, respondeu num vídeo de 3min 45, no qual o parlamentar, com apurado acerto, afirma que existe no Brasil não a duvidosa cultura de estupro mas sim a mensurável cultura de impunidade. Assista.

Embora não seja conhecido pela exatidão e propriedade no que às vezes diz, Bolsonaro foi certeiro no vídeo. Não sei se ele foi atirador de elite do Exército quando estava na ativa, mas nesta intervenção o deputado foi sniper ao tocar no assunto da impunidade.

Cultura de estupro ou cultura de impunidade?

É bem verdade que a Lava Jato e seus desdobramentos, como a Operação Custo Brasil, tem solapado, inclemente, a cultura de impunidade na nossa terra; essa sim velha conhecida do brasileiro. E o combate a ela deve prosseguir com a responsabilização mais efetiva de pessoas de 16 a 18 anos, jovens com vigor e força física que tem sido agentes dos mais inominados crimes, sobretudo nos dias de cultura da maromba; sim, jovens de 16 a 18 anos poderiam responder penalmente em casos específicos e bárbaros, como o de Champinha e Pernambuco.

Penso que o Ministro Marco Aurélio acertou no caso: as palavras de Bolsonaro foram ditas num “arroubo” de paixão no fragor da batalha. Apenas isso. O próprio Código Penal prevê esse tipo de atenuante ou excludente.

Não acho que Bolsonaro vá ser condenado, porém a intimidação realizada por esse processo na Suprema Corte, que parece que tem a finalidade de dar um supremo corte em Bolsonaro, já produziu e produzirá efeitos, independente do curso que a ação penal seguir. O deputado pode ser condenado e ficar inelegível, contudo alguns já dizem até que essa atitude do Supremo produziu o chamado “efeito rebote”: Bolsonaro disparou em visibilidade na rede.

O fato é que, num ou noutro caso, a pergunta que o deputado respondeu ecoa como voz que clama no deserto da realidade jurídica no Brasil:

Cultura de estupro ou cultura de impunidade?

O que sei de queijos

 

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Sempre gostei muito de queijo. Inclusive, nas crônicas secretas de minha família, corria à boca miúda a história de que eu me escondi na oficina de meu padrinho pra saborear quase em offline uma lata inteira de uma parente do queijo bem conhecida: a maravilhosa manteiga Turvo. Por pouco não fui bem sucedido nessa experiência “gastronômica”.

Bem, o fato é que onde eu morei de 2012 a 2015 tinha um queijo coalho extraordinário pra fritura e aqui onde estou agora ele não aparece. Sinto falta dessa comida tão simples mas deliciosa – queijo frito com capa. O famoso queijo de manteiga do meu nordeste também me deixa saudade. Pois é…nem só de gente a gente tem saudade. Saudade da terra querida e da comida. Comida de milho, então? Meu Deus!

Provolone, chedar, parmesão, do reino, gorgonzola e tantos outros dos quais nunca provei nem ouvi falar….O fato é que gosto de queijos. Quando compareço, vez perdida nessa vida, aos restaurantes mais equipados, como o inesquecível “Sal e Brasa”, da Avenida Recife, não dispenso a “visita” a tábua de queijos. Paixão à mesa, quem não padece dela?

Recentemente, descobri que o mundo dos queijos também é cercado de regras e vocabulário próprio, à semelhança do universo dos vinhos. Alguns, como Luiz Felipe Pondé, acham chato e boboca quem vive arrotando conhecimentos sobre vinho de forma pedante e pensando que isso é a coisa mais importante dessa vida e que, quem não os possui, é um tipo de pária indiano. Longe de mim isso aqui, até porque não entendo – nesse sentido – nada de vinho e nem de queijo. O que entendo de vinho é sobre as poucas taças que tomo toda sexta em casa e o que sei de queijos é também sobre minha experiência sensível com essa maravilha do leite.

No mundo do queijo aparecem vocábulos específicos e esquisitos também: Brie, Camembert, os tais Cheese Hunters (Caçadores de queijos), mâitre fromager affineur (o especialista em queijo). Além disso, a combinação dos diversos tipos de queijo com os diversos tipos de vinho, a harmonização de queijo com cerveja, são levados em conta pelos apreciadores da iguaria láctea.

Nesse universo particular encontram-se também vocábulos como: picância, dulçor, untuosidade e acidez.

Acidez tem a ver com o solo. Plantas de queijo (Risos)? Se existissem, eu queria uma de queijo coalho e outra de queijo de manteiga. Solo onde o gado pasta e onde as “donas” do leite saboreiam seu mato. Ligação da terra com o queijo.

Picância. Tem a ver com pimenta mas não só. Envolve também textura e combinação de sabores.

Dulçor. Relacionada à doçura, como sugere a palavra, o dulçor do queijo integra-se também à chamada harmonização de sabores: queijo com vinho ou, mais recentemente, queijo com cerveja.

Untuosidade. Significa o que é untuoso, gorduroso, escorregadio. Não sei quantos foram chamados pelas mães pra ajudar a untar a forma de bolo. Fiz muito isso – passar a camada fina de margarina onde o bolo ia ser assado. A untuosidade do queijo, portanto, guarda relação com a “lipidiosidade” dele, digamos assim. O parmesão é bem untuoso, o coalho, não.

Bem, pelo pouco do que apresentei aqui, já dá pra ver que queijo também é “chique”. Não é só fritar coalho e saborear pedaços enormes de queijo de manteiga, como eu gostava de fazer em Recife e em Corumbá-MS. Que saudade! O queijo tem também seu lado parisiense, como o vinho do enólogo e do sommelier. Que o diga o mâitre fromager affineur.

O que sei de queijos é isso…quase nada. Aqui em Resende-RJ faz frio e o tempo no inverno é propício à prova de queijos e vinhos. Pena que aqui o coalho e o “de manteiga” sejam artigos invisíveis. Se fossem de luxo ainda dava pra tentar adquirir um pedacinho microscópico.

Bom queijo pra todos!