Boas companhias e cultura do estupro

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Quem não quer andar bem acompanhado? Boa companhia cai bem. Amigo de verdade não é fácil de se ter e muito menos se encontra em qualquer esquina, como placa de aluguel em tempos de retração econômica. A namorada bonita e doce é desejada por qualquer um e o moço cortês e inteligente é sonho de muitas meninas.

Há uns vinte anos tive uma colega na faculdade de Economia que toda segunda ia pro cinema com o pai e com os irmãos. Era uma sessão de arte no antigo Cine Veneza na famosa Rua do Hospício, lá na Veneza do Brasil. “Que hábito estranho, pensei. Como é que ela ia pro cinema toda semana com o pai? Que coisa sem graça.” O fato é que ela os tinha por excelente companhia. Engraçado é que hoje tenho muita satisfação em ir ao cinema com minha prole.

Em nítido contraste com a minha colega “esquisita”, a menor estuprada pelos 33, não estava bem acompanhada. A tal da “cultura do estupro” parece ser mais uma insinuação boboca de inspiração marxista, embora eu reconheça que algo da obra de Marx seja útil para análise de certos aspectos da vida em sociedade. Para o barbudo, o “social” tem prioridade na explicação dos fatos. Muita prioridade.

Penso que, na verdade, estupro tem muito mais a ver com biologia do que com sociologia, apesar de terem pontos de intersecção. “Cultura de estupro” passa a ideia de que violações sexuais se resolvem apenas com reeducação de seres assexuados construídos socialmente. Não, antes de serem construídos socialmente eles são machos. Homens estupram homens nos presídios, noticia-se.

Sobre o estupro coletivo, desconfio que não há palavra em língua portuguesa que nomine e adjetive com precisão os 33: crápulas, canalhas, monstros, bárbaros…nenhuma delas sozinha me satisfaz, nem todas juntas. Por isso me refiro a eles como os 33. Mas há algo importante que já vem sendo insinuado por alguns, como Lobão.

Embora Lobão tenha falhado na lógica ao estabelecer relação necessária entre roupa curta e estupro (quem mandou usar tuite para expor assunto complexo?), ele acena para algo interessante que contribuiu para o episódio dos 33. A cultura do Baile Funk à Carioca, regado a bebidas, drogas e sacanagem sexual – a pegação das “novinhas”, por exemplo – é algo que deve ser revisto por muita gente, inclusive pela Rede Globo e os Esquentas da vida. Acho que tem a ver. Isso sim está bem mais inserido no domínio da cultura.

A responsabilidade da jovem é ter escolhido estar mal acompanhada. Os criminosos são os 33, não foi ela que cometeu crime. Penso que ela e a família falharam mas em outro domínio.

Por outro lado, lembrei de passagem da Torá cujo ponto principal é justamente a boa companhia. Aparece nos versículos 29 a 34 do Capítulo 10 de Números.  Ali, Moisés insiste que certo guia do povo de Deus até aquele ponto da marcha, continue com Israel no restante do caminho. Curioso é que o guia recusa prosseguir e estar na companhia de Israel porque ele queria voltar à terra de origem e encontrar a família dele. O guia ansiava pela boa companhia da família. Baile Funk à carioca não promove família acolhedora, aliás não promove família nenhuma. O certo é que o guia escolheu o bom mas perdeu o melhor . Disse Moisés ao guia:

“Vem conosco e te faremos o bem, porque o Eterno falou que traria o bem sobre Israel.”

“E se vieres conosco, nós faremos contigo o mesmo bem que o eterno fizer conosco, e te beneficiaremos.”

É certo que o deserto possui perigos de morte. Porém, quem está com Israel está em boa companhia, diz a Torá.

Isso pode valer também para o cristão, pois Saulo parece confirmar essa ideia, ao escrever para os gentios de Roma que se uniram à Fe de Israel mediante o testemunho do seu messias:

“Entretanto, se alguns ramos foram quebrados, e você – uma oliveira brava – foi enxertado entre eles e se tornou co-participante da rica raiz da oliveira, então não se glorie como se fosse melhor do que os ramos! Contudo, se o fizer, lembre-se de que não é você que sustenta a raiz, mas a raiz que o mantém.” (Romanos 11, 17.18)

Boa companhia não tem igual. É top, é agradável, é instrutivo, faz bem ao coração, faz bem pra vida. Pai, mãe, bons irmãos, amigos, amores de verdade ainda que tenham passado, Israel. Tudo isso é maravilhoso.

Triste é o caso da jovem que talvez nunca tenha experimentado dessas iguarias e que teve o infortúnio de cair na jaula do leão; não na jaula da suposta “cultura do estupro” mas na masmorra do Funk à Carioca e dos 33.

 

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